Nem todos entendem com exatidão sobre como funcionam as coisas “por trás das cortinas” no serviço público. Muitas vezes, imaginamos que, uma vez que um projeto começa, ele segue em linha reta até o fim.
Contudo, a realidade, especialmente para iniciativas que buscam inovar, pode ser bem mais tortuosa e complexa do que parece à primeira vista, enfrentando desafios únicos que o setor privado raramente encontra.
Pensando na relevância deste tema, vamos conversar sobre algo que muitos empreendedores precisam saber em relação à movimentação política: como a montanha-russa do dinheiro público – ou as oscilações orçamentárias – impacta diretamente a capacidade do governo de criar soluções novas e melhores para nós, cidadãos.
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Inovação pública: Por que ela é tão importante?
Antes de mergulharmos nos desafios, vamos entender o que é inovação pública. Não é apenas sobre tecnologia de ponta, robôs ou softwares substituindo pessoas. É, na verdade, sobre encontrar novas e melhores formas de executar processos no setor público, visando sempre aprimorar a entrega de valor público final, os cidadãos.
Podemos usar de exemplos como:
- Um aplicativo que permite agendar consultas médicas de forma rápida e sem burocracia, reduzindo filas e otimizando recursos.
- Um programa que simplifica a emissão de documentos, tornando o processo mais acessível e menos custoso para o cidadão e o Estado.
- Uma nova metodologia para o atendimento em hospitais públicos que reduz tempos de espera, melhora a experiência do paciente e otimiza o fluxo de trabalho dos profissionais de saúde.
- Plataformas de participação cidadã que permitem aos cidadãos contribuir com ideias e fiscalizar projetos, aumentando a transparência e a legitimidade das ações governamentais.
A inovação pública visa tornar os serviços mais eficientes, acessíveis, transparentes e, no fim das contas, melhorar a vida das pessoas. É ela que nos tira do “sempre foi assim” e nos leva para o “poderia ser melhor”, impulsionando a modernização do Estado.
Entendendo as Oscilações Orçamentárias
Agora, imagine que para cada um desses projetos de inovação, existe um planejamento, uma equipe dedicada e, claro, um dinheiro reservado para que tudo aconteça. Esse dinheiro vem do orçamento público, que nada mais é do que a estimativa de quanto o governo vai arrecadar (com impostos, por exemplo) e como vai gastar.
As oscilações orçamentárias ocorrem quando esse planejamento financeiro muda inesperadamente, afetando a disponibilidade de recursos.
Isso pode acontecer por vários motivos:
- Crises Econômicas: Uma queda na economia (recessão, inflação descontrolada) pode significar menos impostos arrecadados, e, consequentemente, menos dinheiro para o governo gastar ou até mesmo a necessidade de cortes lineares em todas as pastas.
- Mudanças Políticas e Prioridades Governamentais: Novos governos ou mudanças na gestão podem ter outras prioridades, redirecionando verbas de projetos em andamento para novas iniciativas ou, em casos mais drásticos, cortando projetos que não se alinham à sua visão.
- Eventos Imprevistos e Emergências: Uma catástrofe natural, uma pandemia (como a COVID-19), ou uma emergência social (como uma crise migratória) podem exigir que o dinheiro seja rapidamente realocado para áreas de saúde, assistência social ou infraestrutura de emergência, impactando orçamentos já comprometidos.
- Restrições Fiscais e Legais: Limites de gastos, regras fiscais mais rígidas ou decisões judiciais podem impor cortes ou congelamentos orçamentários que afetam diretamente a execução de projetos.
- Descompasso entre Orçamento Planejado e Executado: Mesmo com um orçamento aprovado, a liberação efetiva dos recursos pode atrasar ou ser parcelada, criando gargalos financeiros que impedem o avanço contínuo dos projetos.
- O Efeito Dominó: Como a Instabilidade Financeira Freia a Inovação
O resultado de uma mudança brusca em planejamentos do setor privado
Quando o dinheiro “some”, é atrasado ou é redirecionado no meio do caminho, os projetos de inovação sofrem um efeito dominó que pode ser devastador.
Quanto a parte do poder público, apenas cabe a comunicação da falta de recursos, porém no caso das empresas privadas envolvidas, os efeitos de uma mudança de planejamento podem ser catastróficos.
Projetos Paralisados, Desacelerados ou Cancelados
O impacto mais direto. Um projeto que estava a todo vapor pode ser forçado a parar, ser adiado indefinidamente ou ter seu escopo reduzido drasticamente. Isso resulta na perda de sunk costs (custos irrecuperáveis) em tempo, recursos e esforços já investidos, além de tornar a tecnologia ou as soluções desenvolvidas obsoletas antes mesmo de serem implementadas.
Perda de Talentos e Desmotivação da Equipe
Equipes engajadas, que dedicaram tempo e conhecimento para desenvolver algo novo, veem seu trabalho ser interrompido ou desvalorizado. Isso pode levar à desmotivação, à perda de engajamento e ao que se chama de “brain drain” – a saída de profissionais qualificados para setores mais estáveis (privado, terceiro setor, ou mesmo outros países), dificultando a atração de novos talentos para futuras iniciativas.
Dificuldade no Planejamento de Longo Prazo e Aversão ao Risco
A inovação, muitas vezes, exige tempo para amadurecer, testar e ser implementada em larga escala. Com a incerteza orçamentária, os gestores ficam receosos de iniciar projetos ambiciosos e transformadores, preferindo focar em ações de curto prazo, menos arriscadas e que prometem resultados imediatos, mesmo que menos impactantes. Isso inibe a experimentação e a busca por soluções verdadeiramente disruptivas.
Dificuldade em Atrair e Manter Parceiros
Muitas inovações públicas se beneficiam de parcerias público-privadas (PPPs), colaborações com universidades, organizações da sociedade civil e outros entes governamentais.
Se o governo não consegue garantir a previsibilidade e o financiamento, parceiros em potencial hesitam em investir tempo, recursos e reputação, temendo que o projeto não vá para frente ou que seus próprios investimentos sejam perdidos.
A falta de continuidade mina a confiança e a construção de redes de colaboração essenciais.
Como mitigar o impacto dessas oscilações orçamentárias?
Apesar dos desafios, existem formas de mitigar o impacto das oscilações orçamentárias na inovação pública, transformando a instabilidade em oportunidades de resiliência e adaptação:
Planejamento robusto com contingências e cenários
Ir além do planejamento tradicional. Incluir no planejamento a possibilidade de imprevistos financeiros, tendo planos B e C para diferentes cenários (otimista, realista, pessimista).
Uma contingência não é apenas um “fundo de emergência”, mas uma estratégia proativa que envolve:
Plano de cenário
É necessário desenvolver planos de ação para diferentes níveis de corte orçamentário. Qualquer planejamento serve para a diminuição ou antecipação dos riscos.
Estudo de riscos
Identificar e monitorar riscos financeiros, com planos de mitigação claros. Existe hoje no ramo da administração uma série de ferramentas para mapeamento de riscos capazes de ilustrar o cenário a curto e longo prazo, no intuito de melhorar a visão estratégica sobre riscos e oportunidades.
Plano de perdas
Para minimizar perdas, é necessário estruturar o projeto em fases com entregas de valor em cada uma, permitindo que o projeto seja pausado ou reavaliado ao final de cada fase
Diversificação de fontes de financiamento
Esta é uma das decisões mais importantes dentro de um planejamento. Não depender de apenas uma fonte de dinheiro. Isso pode incluir a busca por:
Fundos internacionais e agências de desenvolvimento
Grants e financiamentos de organizações como o Banco Mundial, BID, agências da ONU, entre outros.
Parcerias com a Iniciativa Privada (PPPs e Co-financiamento)
Modelos onde o setor privado compartilha riscos e investimentos em troca de benefícios mútuos ou retorno financeiro.
Captação de Recursos via Editais e Chamadas Públicas
Buscar financiamento em editais de fomento à pesquisa e inovação de agências governamentais (e.g., FAPESP, FINEP no Brasil) ou fundações.
Inovação é um investimento contínuo no valor público
Acima você pode ver uma série de ações que livram sua empresa de possíveis riscos quanto a continuidade de um projeto que envolva relações governamentais.
Entendemos o cenário de muitas corporações e sabemos que nem todas tem uma estrutura qualificada para estar atenta estrategicamente a visão política, por isso, reforçamos mais uma vez nossa atuação como consultoria, pois nossa performance consiste em encurtar o caminho do sucesso entre as organizações e os órgãos públicos.
Com planejamento estratégico, flexibilidade, uma cultura de experimentação e um compromisso sólido com a melhoria contínua, é possível construir um caminho mais seguro para que a inovação floresça no serviço público.
Se você tem interesse em buscar uma parceria estratégica a fim de pisar em “sólido firme” quando o assunto é relações governamentais, entre em contato com o time Elo.